quarta-feira, 2 de abril de 2008

ERAM OS DEUSES DE AREIA?

ERAM OS DEUSES DE AREIA?

A figura zen de Dalai-Lama vê-se agora envolta em nuvens de dúvida: estaria ele instigando os monges a se revoltarem contra a China?
O Tibete, que se encontra submisso à China desde 1950, ainda não se rendeu ao invasor e, é claro, não se renderá nunca.
Dalai-Lama encontra-se exilado na Índia desde 1959 e já anunciou sua disposição de abdicar da condição de líder espiritual dos tibetanos, falou também que não pretende a independência do Tibete, e, sim lutar para que os chineses respeitem a cultura tibetana.
De acordo com reportagem de Paul Eckert, o ator Richard Gere vem sugerindo que todos boicotem os jogos olímpicos na China, caso o país não amenize a situação e prossiga com as tensões que estão sendo geradas no Himalaia. Richard Gere é pupilo de Dalai-Lama há 25 anos e em entrevista à Reuters disse: “Educados e sensíveis como os chineses são, a razão pela qual eles não entenderam a situação tibetana desde o começo, vai além da minha compreensão”.
Dalai-Lama diz que “nunca incentivou a violência, pois ela é contra a natureza humana.”
Foi assim, como um pacificador, que me acostumei a ver o líder espiritual dos tibetanos: sempre um pregador da paz e da humildade. De repente, os noticiários e reportagens nos mostram os monges manchados de sangue, todos em luta, tentando boicotar os jogos deste ano. Neste cenário de disputa sangrenta, com pedradas e iras, quando as notícias retratam Dalai-Lama afastado de seus alunos espirituais, frágil, vulnerável, pergunto-me: ERAM OS DEUSES DE AREIA?
Nós, simples mortais, sempre ouvimos nas aulas de religião que “tu és pó, e ao pó retornarás”, e para nós é intrigante saber que até aquele que os monges crêem ser a reencarnação de Buda, veio do mesmo barro que nos deu origem.
Os monges e outros tibetanos desmentem o primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, com relação ao número de mortos na revolta em Lhasa. Porém, com os jogos se aproximando, como ficará essa pendência?
Quando os próprios monges se deixam fotografar com sangue na testa, provando que a luta se arrasta, mostrando ao mundo uma realidade oposta daquela que imaginamos ser a rotina dos monges, constatamos que a missão deles pode não estar na submissão e que, tanto quanto a nossa, têm limites, exigências.
Dalai-Lama, ainda no exílio, distante corporalmente da região do conflito, se limitou a dizer que apenas reivindica a manutenção da cultura do seu povo. Fica muito evidente a sua condição humana, de mortais como todos nós, assim como ficou evidente a de Cristo ao ser preso e levado à presença de Pilatos, julgado, condenado ao suplício da cruz, deixando alguns de seus discípulos incrédulos em relação à sua divindade, como ficou São Tomé. Pelo menos para mim, seria deprimente ver Dalai-Lama com a testa sangrando, como está a de outros monges, caso ele voltasse ao Tibete, para combater ao lado dos seus pupilos. Cristo ofereceu-nos a prova de sua Natureza Divina, ao ressuscitar, coisa que, sabemos, não acontecerá de novo com outro Pastor de almas, portanto, sua permanência na Índia, seu exílio, é o que há de mais prudente e até sábio para quem sabe que é de barro.
Quanto a Dalai-Lama, vê-lo como um líder zen, protegido em outro país, onde não será desfeito como uma nuvem de poeira, só pode nos confirmar, sim, que os atuais deuses podem ser de areia, como cada um de nós.

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