sexta-feira, 18 de abril de 2008

DIA 19 De ABRIL- DIA DO ÍNDIO.

DIA 19 DE ABRIL, DIA DO ÍNDIO.

O que exatamente esse dia pode nos dizer? Comemoração folclórica, quando se faz uma homenagem aos habitantes primitivos desta terra e se pintam o rosto dos nossos alunos, colocando-lhes penas na cabeça, ensinando-lhes que batam de leve a mão na boca e gritem: “u, u, u...” lembrando-lhes que no ano de 1500, por ocasião do descobrimento do nosso Brasil (afinal, esse país é nosso também), eles, os índios, viviam por aqui, livres e donos plenos deste chão? Ignorando, porém, o drama que esses nativos sentiram e sentem desde que Pedro Álvares Cabral aportou onde chamaram primeiro de Ilha de Vera Cruz e depois de Terra de Santa Cruz?

Hoje, a figura do índio do século XXI não é, sem sombra de dúvida, a mesma da época do Brasil colônia, quando nossos compositores, escritores e poetas, munidos do ardor nacionalista, uma das características fortes do período literário do Romantismo, na ânsia de se buscar um passado que gritasse mais alto que as imposições da cultura européia e em busca da liberdade política, encontraram no indianismo a forma de se dizer que tínhamos um passado, uma história.


Enquanto os europeus ilustravam em sua literatura um herói medieval, aqui no Brasil, nosso Gonçalves Dias, nosso José de Alencar e outros enalteciam o índio, descrevendo-o como bom, nobre, corajoso e belo, tornando-o símbolo da raça nacional: Peri, Iracema, e outros.

Esse tema de valorização do indígena, porém, se esgotou no final do século XIX, dando espaço às questões sociais, como, por exemplo, a escravidão negra, enriquecendo nossa literatura com poemas tão belos quanto os indianistas, tal qual O NAVIO NEGREIRO, de Castro Alves. O índio voltava ora ou outra a ser citado, no entanto, sem o ardor do início do século, sem heroísmo, ou já como um misto das três raças que formaram nosso povo: MACUNAIMA, o herói sem nenhum caráter, (branco, índio e negro), de forma realista, sem a nobreza que Gonçalves Dias atribuíra ao guerreiro Tamoio: “Não chores, meu filho; Não chores que a vida/ É luta renhida: Viver é lutar. /A vida é combate, que os fracos abate, / Que os fortes, os bravos, Só pode exaltar”.


E hoje? Depois que vimos em “O GUARANI” o índio Peri, herói belo, corajoso e encantador, após lermos a descrição de IRACEMA:
“Iracema a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.”
“O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado”, embora todos saibam que o exagero nas descrições era um estilo presente nos escritores da época, o índio tinha sua importância. E hoje, o que lemos e ouvimos sobre os índios?Muitas dificuldades.

Será que no início da colonização brasileira, os poetas e jornalistas da época poderiam imaginar que aos nativos estaria destinado um confinamento a terras demarcadas, chamadas de reservas? A palavra “reserva” já conota certa limitação. Será que eles ,os índios, podiam imaginar que deixariam de ser os bravos guerreiros desta terra, para serem dependentes da ajuda de um governo, ou seja, da nossa ajuda, porque o governo só é nosso representante (embora alguns políticos se julguem os detentores do saber e do poder). Será que eles poderiam prever que aquela missa celebrada por frei Henrique de Coimbra não lhes garantiriam nem a caridade de ter num futuro longínquo, descendentes sadios, quando o que vemos hoje, são suas crianças tão humanas quanto nós, morrer de fome, já que seus quintais denominados de “reservas indígenas”, não lhes destinam a possibilidade de sobrevivência digna? Ou será que por termos sido colonizados por europeus, herdamos um instinto de superioridade, julgando-nos donos de determinar quem são os seres incapazes ou capazes e quem precisa da nossa proteção? Ou índio é mesmo incapaz? Mas, incapaz de que?

Lembrarmo-nos do valente índio da Canção dos Tamoios, que foi amaldiçoado pelo velho pai, o qual julgava que seu filho tivesse fugido dos inimigos por covardia, mesmo sabendo que era para cuidar dele, pobre pai cego, talvez seja uma boa homenagem para 19 de Abril:
“TU CHORASTE EM PRESENÇA DA MORTE?
NA PRESENÇA DE ESTRANHOS CHORASTE?
NÃO DESCENDE O COBARDE DO FORTE:
POIS CHORASTE, MEU FILHO NÃO ÉS!”
O que diria esse velho índio aos descendentes de hoje?

Ou seria melhor voltarmos nossos pensamentos apenas aos índios atuais, que de forma equivocada acreditamos que preservar sua cultura seja mantê-los em suas aldeias?
E se de repente, eles também resolvessem criar o dia do Colonizador e fizessem em suas terras, festinhas como as que já fizemos em nossas escolas, onde os indiozinhos pusessem perucas longas, com aqueles cabelos despenteados (no princípio, na era da caverna, os homens não cortavam os cabelos), e lhes dessem armas de pedras e paus , pedissem que gritassem do tipo “uga... uga, uga”, um deles arrancando um pedaço de carne de bicho do outro, para comer com as mãos? Será o que estariam simbolizando? Seria uma forma de achar que para preservar nossa cultura deveríamos estar vivendo ainda nas cavernas? Ou seria hora de pensarmos que para eles lembrarem-se de sua cultura, podem desfrutar da modernidade, das tecnologias, da educação que julgamos ser caminhos apropriados para um lugar no mercado de trabalho... Ou o índio é um ser humano diferente, não só culturalmente e precisa viver na aldeia? Isso não é cidadania. Mas achamos em nossa arrogância, que aos índios cabe uma “reserva”. Coitados, porque estamos exterminando as matas, florestas e o quintal que lhes sobrará será tão pequeno, quase do tamanho de uma cela de prisão, porque numa reserva não existe horizonte. E nós, em nome da preservação cultural, insistimos em achar que devemos protegê-los, lá no mato. Afinal, evolução, só para nós. Caverna para nós, é pré-história, é primitivo. Reserva para índio é normal... Nós achamos que evoluir, ter conforto, progresso não importa a eles. Nós achamos. E a inclusão deles entre nós? Creio que devam preservar seus costumes, sim, e que decidam, eles mesmos, onde e como. Penso assim, desde que ouço falar em inclusão.

Ou nós devemos ficar quietinhos em nosso canto e quem está certa é Rita Lee:
"Se Deus quiser/ um dia quero ser índio/
viver pelado pintado de verde/ num eterno domingo/
ser um bicho preguiça/ espanta turista/
e tomar banho de sol/ banho de sol/ sol."

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